O Melhor Pedaço
Jair andava pelas ruas da cidade, sempre com o seu fiel cão, um vira-lata, chamado “Malhado”. Apesar de ser um mendigo, ele não pedia dinheiro e aceitava sempre um pão, uma fruta, um pedaço de bolo ou um almoço com sobras de comida.
Jair era conhecido como um homem bom, que perdeu a razão, os amigos e nem sabia mais quem era. Não tinha nenhum vício, estava sempre tranqüilo, mesmo quando não ganhava nenhuma comida, pois acreditava que Deus lhe daria um pouco na hora certa. E, realmente, sempre alguém lhe dava o que comer. Ele agradecia com muita humildade e pedia a Deus para abençoar aquela pessoa.
Jair e Malhado se conheceram na rua. Ele dividiu seu almoço com o cão, e, assim, ficaram amigos. Desde então, toda comida que o mendigo conseguia, dava primeiro ao cachorro, que, por sua vez, protegia seu dono.
Como viviam na rua, não tinham lugar certo para dormir, onde anoiteciam, ali dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo embaixo de algum viaduto.
Uma vez, Dr Josué,começou a conversar com Jair e perguntou:
- Você vive vagando pelas ruas com seu cão...
Você não tem nenhum desejo na vida?
E, Jair respondeu:
- Tenho sim. Eu tenho muita vontade de comer um cachorro quente, daqueles que o seu Zezé vende ali na esquina.
Josué surpreso perguntou:
- Só isso? Só um simples cachorro quente?
E Jair confirmou:
- É, sim, este é o meu desejo do momento.
Josué, então, saiu para comprar o sanduíche na carrocinha do amigo Zezé. Voltou e entregou o delicioso cachorro quente para o mendigo, que emocionado, não conseguia falar nada, somente sorria. Assim que pegou o sanduíche, Jair tirou a salsicha, deu para “Malhado” e comeu o pão com os temperos.
Josué, não entendeu a atitude de Jair, pois a salsicha era o melhor pedaço do cachorro- quente, e perguntou:
- Por que você deu para o cão, a salsicha, o melhor pedaço?
E Jair, saboreando o que restou do sanduíche, respondeu:
- Para o melhor amigo, o melhor pedaço!
Disse isso, e continuou comendo alegre e satisfeito.
Dr. Josué não tinha mais o que falar. Se despediu de Jair, passou a mão na cabeça de “Malhado” e saiu pensando no que havia acontecido ali naquela praça.
Jair, um simples mendigo, havia lhe mostrado o verdadeiro sentido de uma amizade.